O fenômeno conhecido como piracema, também chamado de período de defeso, é fundamental para a fecundação e desenvolvimento de várias espécies de peixes
Várias espécies de peixes migratórios como, por exemplo, o salmão, o curimbatá, o pintado, bem como o dourado e o lambari, anualmente e por várias partes do mundo, protagonizam o espetáculo da piracema.
A pesca durante a piracema é proibida por Lei. Porém, muitos pescadores a transgridem. Para que esse período tão importante para a reprodução de várias espécies de peixes de água doce e salgada seja respeitado, é fundamental a conscientização da população.
O que é piracema?
Piracema é o período de reprodução de várias espécies de peixes de água doce e salgada. A palavra é de origem tupi-guarani, onde pira significa peixe e, cema, agitação. Anualmente, não só no Brasil, mas ao redor do mundo, peixes migratórios nadam contra a correnteza dos rios para realizar a desova.
Ou seja, durante a piracema, ocorre a reprodução dos peixes. Durante esse período, que tem início em outubro e termina em março, é proibida a pesca, ou em rios ou mar, em que ocorram as desovas.
A Lei nº 7.653, de 12 de Fevereiro de 1988, assinada pelo então presidente José Sarney, constitui crime punível de reclusão de 2 a 5 anos, além de multa para quem praticar a pesca predatória durante esse período. Além disso, o crime é considerado inafiançável.
Época da piracema
A época da piracema pode variar de acordo com o clima da região. Entretanto, sempre ocorre nos meses mais quentes e chuvosos do ano. A princípio ocorre no mês de outubro, podendo se estender até março, como já vimos.
Isso porque, durante esses meses, ocorre uma precipitação muito grande. Dessa maneira, os rios ficam mais cheios, bem como com águas com temperaturas mais elevadas e ricas em oxigênio, o que é fundamental para o desenvolvimento das ovas.
Como ocorre a piracema?
Anualmente, várias espécies de peixes fazem logos caminhos, vencendo obstáculos naturais, como corredeiras e cachoeiras. Além disso, enfrentam também obstáculos impostos pelo homem como, por exemplo, barragens hidroelétricas.
Esse fenômeno é conhecido como migração dos peixes, um processo bastante complexo. Porém, é fundamental para a preservação das espécies, bem como necessário para o desenvolvimento das gônadas (testículos e ovários), assim como a maturação dos gametas e posterior desova.
Peixes migratórios
Os peixes migratórios são classificados de acordo com o processo de migração que realizam para a sua reprodução. Acompanhe abaixo como é dividida essa classificação:
- Potamódromos: são os peixes que realizam o processo de migração somente em água doce;
- Oceanódromos: são os peixes que realizam o processo de migração somente em água salgada;
- Diádromos: são os peixes que realizam o processo de migração em ambientes intermediários, ou seja, entre água salgada e doce;
- Anádromos: são os peixes que realizam o processo de migração da água salgada para doce.
Acredita-se que 80% dos peixes de água doce sejam reofílicos, ou seja, necessitam migrar para reproduzir. Entre as espécies de peixes da piracema estão, por exemplo:
- Dourado;
- Pacu;
- Curimbatá;
- Tambaqui;
- Tabarana;
- Matrinxã;
- Piracanjuba;
- Mandi;
- Piauçu;
- Salmão;
- Pintado.
Ciclo de reprodução dos peixes
O processo de nadar contra a correnteza, ou seja, a “subida do peixe”, demanda um grande esforço. Esse esforço tem como resultado um grande gasto calórico. Por sua vez, esse gasto estimula a produção dos hormônios responsáveis pelo amadurecimento dos órgãos sexuais.
Dessa maneira, os testículos dos machos aumentam de tamanho, bem como ficam repletos de sêmen. A fecundação, que ocorre externamente, origina-se exatamente quando o macho lança seus espermatozoides que vão ao encontro dos óvulos lançados pelas fêmeas.
Para que se entenda a importância da piracema, uma fêmea de dourado, por exemplo, pesando 10 kg, pode desovar em média um milhão e quinhentas ovas. Levados pela correnteza, então, os ovos fecundados acabam por eclodir aproximadamente em 20 h após a desova.
Preservação das espécies
As larvas de peixes, ou seja, os alevinos, já nascem com uma certa reserva de nutrientes, o saco vitelino. Esse, por sua vez, garante a sobrevivência do alevino durante seus dois a três meses de vida.
A correnteza os leva para lagoas marginais e ali permanecem aproximadamente por um ano. Logo depois, ao ocorrer a próxima cheia, os alevinos, agora peixes jovens, retornam para o leito do rio.
Os peixes permanecem no leito do rio até atingirem a maturidade sexual. Assim que isso ocorrer, eles iniciarão o fenômeno de migração para a próxima piracema.
Proteção e recuperação do meio ambiente
Há anos alguns, estudiosos chegaram a afirmar que os recursos naturais eram inesgotáveis, isto é, que a imensa diversidade dos recursos naturais existentes no planeta seria suficiente para manter a população mundial.
Porém, com o passar dos anos, o desejo de poder do ser humano, assim como sua cobiça desenfreada, culminaram em consequências devastadoras para todo o meio ambiente, sem exceção.
A preocupação com os recursos naturais, cada vez mais escassos, fez com que a legislação brasileira se tornasse mais severa. Dessa forma, através de órgãos públicos e institutos, criaram-se ações que buscam recuperar e preservar o meio ambiente.
Importância da piracema
A fauna aquática vem sofrendo danos drásticos durante anos. E isso vem causando desequilíbrio ecológico, bem como econômico, ao ambiente natural. Algumas ações como, por exemplo, o cercamento de nascentes, bem como o zoneamento pesqueiro, contribuiu significativamente para a preservação da fauna aquática.
Entretanto, é inegável que os recursos naturais estejam se esgotando cada dia mais. Diante desse quadro, foi criada a piracema, para que se preservem as espécies de peixes, pelo menos, durante seu período mais importante, ou seja, período de maturidade sexual, reprodução e desova.
Mas, para que esse período seja respeitado, é necessária uma conscientização maior dos brasileiros, principalmente da população ribeirinha, bem como uma maior fiscalização das autoridades competentes.
A piracema pode ser vista como um exemplo de luta pela vida que os peixes realizam todos os anos e deve ser respeitada. A partir do momento em que o ser humano tiver a consciência que, prejudicando o meio ambiente, prejudica a si mesmo, talvez, quem sabe, ele possa lutar pela perpetuação da vida de várias espécies.