Em dez anos, a produção de cambuci saltou de 4 para 65 toneladas por ano
O cambuci é um fruto originário de uma árvore da Mata Atlântica. O longo tempo para frutificação e condições específicas de plantio fazem com que o fruto seja pouco conhecido pelos brasileiros. Há não muito tempo esteve em risco de extinção, mas o esforço de produtores da região Sudeste do Brasil vem revertendo esse quadro.
Conhecida como a Rota do Cambuci, trata-se de um conjunto de 18 municípios que se uniram para criar a rota marcada por festivais gastronômicos tendo a fruta em destaque. O objetivo é promover a preservação da Mata Atlântica e tornar as qualidades do cambuci mais conhecidas.
O que é cambuci?
Cambuci é um fruto que se origina do cambucizeiro, árvore nativa da Mata Atlântica. É um fruto que tem polpa carnuda e casca verde fina, que pode ficar um pouco amarela conforme o amadurecimento.
É conhecido por ser muito ácido, azedo, em razão dos taninos presentes na sua composição. Essa acidez desestimula seu consumo in natura, sendo recomendável consumi-lo junto a outros alimentos.
A fruta cambuci e seus benefícios
A fruta cambuci é uma das frutas brasileiras mais ricas em antioxidantes e vitamina C, essenciais para o combate dos males provocados pelos radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento precoce.
Também é rica em vitamina A, magnésio, fósforo, cálcio e fibras. Por esses componentes, portanto, é recomendada para quem alimenta maus hábitos como fumar e comer muitas gorduras.
Outros benefícios do cambuci merecem destaque:
- A melhora da visão;
- A regulação de nervos dos músculos;
- O equilíbrio do açúcar no sangue;
- A regulação do intestino;
- O controle da pressão arterial.
O plantio do cambuci
Por ser um fruto que integra a alimentação de vários animais como tucanos, macacos, jaú e pacas, o desenvolvimento e difusão do fruto é mais difícil em áreas abertas. Por esse motivo, seu cultivo só passou a florescer em áreas domésticas, como pequenos quintais e pomares.
A região que mais se destaca na produção de cambuci é a Sudeste, especialmente o interior paulistano. A espécie é presente em toda Serra do Mar Paulista e dá nome a um bairro famoso da capital, o Cambuci, região em que a árvore era abundante em tempos remotos.
O termo que nomeia o fruto tem origem indígena, tupi-guarani: vem do termo kãmu-si, que significa “pote d’água”. A inspiração por tal escolha se deve ao fato da fruta, pela ótica dos nativos de então, lembrar um vaso de cerâmica.
Água é o recurso essencial para o bom plantio do cambucizeiro. Após fazer a roça da braquiária, usa-se a palhada como cobertura morta. Desse modo, forma-se matéria orgânica para a planta.
Suco de cambuci
Registros históricos sugerem que, assim como os indígenas, os colonizadores se encantaram com o sabor da fruta. Mas estes passaram a misturar o suco com bebidas alcoólicas, com a cachaça se destacando entre elas.
Diz-se que os moradores da São Paulo dos tempos antigos aproveitavam a queda dos frutos em seus quintais, após as chuvas de verão, para não só temperar aguardente, como para utilizar também no preparo de geleias e sucos naturais.
Essa utilização se mantém até hoje em bares da cidade de Paraibuna, bem como no preparo de alimentos e sucos em demais localidades. Em Paraibuna, cidade paulista, inclusive, é possível se deparar com o sorvete de cambuci e o xarope baseado na fruta.
O cambuci deteriora-se rapidamente, por isso é aconselhável fazer o preparo do suco de cambuci tão logo encontrar um pela frente. Em contrapartida, a fruta congela bem, o que aumenta em muito a sua vida útil.
Para o preparo do suco, lave bem o pomo, depois corte-o em fatias para, em seguida, coá-lo. Adoce a gosto.
No entanto, não é a única opção de preparo. Pode-se misturá-lo com outras frutas para adoçar mais o sabor, como manga e banana, por exemplo.
A Rota do Cambuci
Essa famosa rota gastronômica tem ajudado várias economias locais e, principalmente, a produção, consumo e popularização do cambuci. É um festival anual que conta com uma série de atividades culturais, turísticas e de lazer em cada uma das cidades que fazem parte do roteiro.
São três frentes de atuação:
- O festival gastronômico, que promove a cultura local e os produtos com cambuci;
- O arranjo produtivo, que une produção, processamento e comercialização do fruto;
- O roteiro turístico, um roteiro de viagem contemplando a história do cambuci pelas cidades participantes.
Cambuci como negócio
O potencial comercial da fruta é considerável. Benefícios diversos à saúde, aroma agradável e aplicação para diferentes fins, podendo ser comercializada tanto ao natural como somente a sua polpa, fazendo do cambuci um bom negócio.
Alguns produtores trabalham com o fruto como investimento secundário em pequenas propriedades de até 500 árvores. No entanto, muitos estão integrados a cooperativas que ajudam a fortalecer o plantio de cambucizeiro e preservar áreas de Mata Atlântica.
A árvore começa a dar fruto aos cinco anos, sendo que aos sete pode chegar a produzir 200 quilos por safra.
O cambuci é vendido a produtores de cachaça, bares e restaurantes. É vendido entre 4 a 10 reais o quilo e revendido, normalmente, por 15 reais ao consumidor final.
São Paulo lidera o ranking de produtores de cambuci. Dados da Associação Holística de Produção Comunitária Ecológica apontam que o estado de São Paulo reúne até 100 produtores de cambuci. Nesse mesmo estudo, estima-se que o crescimento de produtores regulares tenha crescido 5% ao ano desde 2009.
Nos últimos quatro anos, mais de quatro mil mudas de cambuci foram plantadas na região da Serra do Mar.
Esse crescimento pode ser explicado pela união de cooperativas de várias cidades do interior paulista para fortalecer o comércio da fruta. Além disso, ao mesmo tempo, elas desejam impedir a extinção total do cambuci, ameaça real na época da inauguração da Rota do Cambuci.
A primeira edição foi em outubro de 2009. Desde esse período, a produção da fruta saltou de 4 toneladas para 65 toneladas ao ano.
Em 2014, a rede de produtores montada pelo Instituto Auá contava com apenas 12 agricultores que produziram 7 toneladas de cambuci. Para este ano, a estimativa é de 80 toneladas.