A jararaca ilhoa é uma espécie que se adaptou com o passar dos anos para sobreviver ao seu habitat. A Ilha da Queimada Grande é o segundo lugar com maior contração de serpentes do mundo, perdendo apenas para a Ilha de Shedao, na China. Nela, é possível encontrar a jararaca ilhoa, uma espécie do gênero Bothrops. Por ser um animal criticamente ameaçado de extinção, infelizmente já foi alvo de captura para venda no mercado negro de animais silvestres.
Entretanto, com a atual fiscalização do IMCBio, a população da jararaca ilhoa está estável. Além disso, essa espécie se adaptou de forma incrível ao seu habitat. Veja as principais características dessa cobra peçonhenta e quais ações estão sendo tomadas para a sua preservação.
O que é jararaca ilhoa?
Jararaca ilhoa é uma serpente do gênero Bothrops que habita exclusivamente a Ilha da Queimada Grande. Essa ilha fica localizada a cerca de 30 km do litoral de São Paulo, entre as praias de Itanhaém e Peruíbe. Estimativas indicam que existem cerca de 2 mil jararacas ilhoas na ilha, ou seja, é possível encontrar uma cobra a cada 300 metros.
Assim como as outras espécies de jararacas, a Bothrops insularis possui escamas e é altamente venenosa. Além disso, a jararaca ilhoa tem fosseta loreal, pupilas em formato de fenda e manchas escuras em formato triangular.
Por outro lado, diferente das outras espécies de jararaca encontradas no continente, ela é de porte pequeno, atingindo cerca de 1 metro de comprimento. Além disso, seus hábitos são bem diferentes.
Ao contrário de outras espécies do mesmo gênero, a jararaca ilhoa tem hábitos diurnos. Embora também seja encontrada no chão, essa cobra peçonhenta é arborícola.
Ademais, diferente das outras espécies de jararaca que se alimentam de pequenos mamíferos, a Bothrops insularis se alimenta de pássaros, já que não existem mamíferos terrestres na Ilha da Queimada Grande.
Outro diferencial da espécie é a sua reprodução. Em vez de colocar ovos, a jararaca ilhoa gera filhotes de maneira similar aos mamíferos. A reprodução ocorre geralmente entre os meses de julho e setembro, sendo que a gestação tem um período estimado de 120 a 150 dias.
Por fim, o veneno da jararaca ilhoa é cinco vezes mais forte do que o das outras espécies encontradas no continente.
Embora o seu veneno seja mais eficaz em aves, ele também pode ser letal aos humanos. Em aproximadamente 3 horas, a vítima da picada pode morrer por falência múltipla de órgãos. Isso acontece porque o seu veneno causa paralisia.
A origem da jararaca ilhoa
A Ilha das Cobras, como é conhecida a Ilha da Queimada Grande, é o segundo lugar do mundo com maior concentração de serpentes.
Estima-se que ela surgiu há mais de 10 mil anos, quando o nível do mar subiu e separou a ilha do continente, no final da última Era Glacial. Como resultado, a população de jararaca da mata (Bothrops jararaca) que ficou isolada na ilha precisou se adaptar as novas condições.
Os hábitos e o veneno da jararaca ilhoa são uma resposta de adaptação às condições da ilha, como a falta de mamíferos terrestres que a levou a caçar aves.
Além disso, a jararaca encontrada no continente, ao atacar sua presa, apenas dá o bote e a solta. Depois de um tempo, ela rastreia a sua presa já morta para se alimentar, evitando assim que o animal reaja e ela acabe sendo ferida.
Por outro lado, a jararaca ilhoa não solta o pássaro ao dar o bote, já que ele poderia voar e, ela, perder seu alimento. Por isso, o seu veneno teve de se tornar mais potente e de ação rápida.
Além disso, essa espécie de cobra venenosa é menor e menos pesada, o que facilita a sua locomoção e caça. Outra adaptação que beneficia a espécie é a elasticidade da sua pele, o que a ajuda na subida às arvores.
Ademais, como essa espécie ergue mais a cabeça, o seu coração fica localizado mais próxima a ela, o que facilita a chegada de sangue ao cérebro.
De fato, a jararaca ilhoa se adaptou bem ao seu novo habitat com passar dos anos.
Jararaca ilhoa corre risco de extinção?
Embora a jararaca ilhoa não tenha predadores na ilha em que vive, ela está criticamente ameaçada de extinção. Isso se deve ao fato de só existirem cerca de 2 mil exemplares no mundo todo, e todos eles concentrados em um pequeno lugar.
Por mais que a Ilha da Queimada Grande seja uma Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) e pertença à Área de Proteção Ambiental (APA), existem partes dela que já foram desmatadas no passado e que ainda devem levar muitos anos para serem completamente recuperadas.
Além disso, há alguns anos, a população da jararaca ilhoa teve uma diminuição devido à captura ilegal para venda no mercado negro de animais silvestres. Felizmente, o último registro de captura ilegal foi em 2012 e, nesse caso, os animais foram encontrados e devolvidos ao seu habitat.
Por esses motivos, a Ilha das Cobras está sob proteção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (IMCBio). Atualmente, a ilha possui acesso restrito somente a pesquisadores e profissionais ambientais.
Para desembarcar na ilha, é preciso solicitar uma autorização pelo SISBio. Essa permissão só é concedida após avaliação da proposta pelo IMCBio. Essa fiscalização tem inibido as práticas ilegais na ilha. De acordo com o último levantamento publicado, a população de jararaca ilhoa está estável!
Outra medida que está sendo estudada para ajudar na preservação desse tipo de jararaca é criação ex-situ (fora do habitat). Essa medida é importante, pois em caso de extinção total da espécie na natureza, ainda existirão pelo menos alguns exemplares.
O Instituto Butantan desenvolveu um projeto que envolve, além da criação em cativeiro, a educação ambiental e a conscientização da população da importância dessas espécies ameaçadas de extinção.
Em resumo, embora a jararaca ilhoa seja altamente venenosa, ela não apresenta risco aos humanos, uma vez que toda a sua população está concentrada na Ilha da Queimada Grande. Por outro lado, o acesso à ilha deve ser respeitado, já que a espécie está ameaçada de extinção.