O poderoso químico extraído do timbó é empregado no combate de insetos e pragas na agricultura. O conjunto de plantas conhecidas como timbó faz parte do grupo de plantas tóxicas existentes no Brasil que todos os anos envenenam pessoas no país, a maioria, indivíduos menores de idade. Esse tipo de vegetal era um recurso antigo utilizado por populações indígenas para fazer pescas em rios.
O uso do timbó ainda existe por tribos indígenas, mas não é recomendado pelos órgãos de proteção ambiental, pois apesar de ser um tóxico biodegradável, inutiliza rios e lagos por tempo que pode levar anos.
O que é timbó?
Timbó é um nome genérico que se dá a um conjunto de plantas das famílias das leguminosas, um cipó trepador que contém um químico natural considerado ictiotóxico que age por meio de uma toxina chamada de “rotenona”.
O seu nome vem do tupi e significa “o que tem cor branca ou cinzenta”.
É conhecida por outros nomes como tingui que, em tupi, significa “líquido do enjoo”, bem como por titim.
Existem várias espécies de leguminosas que recebem a designação de timbó. Calcula-se que no planeta existam 140 espécies de leguminosas que são utilizadas para a pesca.
O timbó na cultura indígena
Era muito comum o uso de ervas por parte de tribos indígenas para produzir chás medicinais e utilizá-los em ocasiões de deleite como festas e eventos importantes como rituais.
As ervas eram a porta de entrada para se exercer atividades de clarividência e mediunidade. No entanto, eram também usadas em situações do cotidiano, como a pesca.
Sem uso de vara e anzol, como os índios pescavam peixes, principal meio de sustento de muitas tribos?
Há quem possa imaginar que fosse apenas com o uso de lanças, mas prover uma tribo inteira caçando desse modo necessitaria de muito tempo e precisão miraculosa.
Para resolver esse problema, os índios descobriram uma espécie de planta que contém um químico natural tóxico letal para os peixes e de grande propagação se colocada na água: os timbós.
Esse tipo de planta tóxica tem capacidade de contaminar a água rapidamente e tornar inconsumível e a sobrevivência inviável para as formas de vida que nela habitam, como os peixes.
A extensão e o poder dessa toxina são tão grandes e letais que já foram registradas as mortes de toneladas de peixes em razão de contaminação da água por timbó.
Os peixes atingidos pelo agente tóxico afundam depois de morrer e seus corpos acabam boiando para a superfície, ficando acessíveis para os índios fazerem a coleta.
Tal prática dos povos indígenas é muito antiga, já relatada pelos primeiros colonos no Brasil em cartas para a coroa portuguesa.
Com certeza, foi observando as práticas dos índios com utilização de plantas que os portugueses puderam descobrir quais eram impróprias para consumo, portanto, tóxicas, e quais tinham finalidades medicinais e psicotrópicas.
Os danos ambientais do timbó
Mesmo a química do timbó sendo biodegradável, ou seja, podendo ser destruída por agente biológico, o processo de descontaminação da água pode levar anos. O uso do timbó pode inutilizar toda uma área que poderia fornecer recursos naturais continuamente.
Mesmo com a enorme quantidade de peixes capturados sem muito esforço, a prática não se mostra tão eficiente, pois nem todos os peixes mortos boiam diretamente para a superfície. Ocorre de muitos emergirem com o corpo já em estado de decomposição. Portanto, muitos peixes são desperdiçados.
E se a demanda por peixe não for grande o bastante, pode ocorrer de muitos estragarem pelo longo tempo armazenado, gerando mais desperdícios.
Riscos do timbó ao homem
Não há resultados conclusivos quanto à ação tóxica do timbó em humanos. O que há de concreto é que o contato da planta com a pele pode causar irritação, além de coceiras.
O consumo dessa planta, com certeza, seja na forma sólida ou diluída na água, causa diarreia devido ao contato com o veneno.
No entanto, há indícios de que o consumo da parte vegetativa desse tipo de planta pode levar a óbito. Sem dúvida, o mais recomendado é não consumir sob qualquer hipótese a planta timbó para evitar riscos e situações desconfortáveis.
Timbó ou cipó prata?
Costuma-se confundir timbó com cipó prata. Essa confusão decorre pelo fato de o timbó ser um cipó trepador, mas certamente existem tipos diferentes de cipó.
O cipó prata é uma planta da família das Malpighiaceae e também é conhecido como erva corona. As folhas são opostas e verde-escuras e seus ramos são finos e alongados.
Tem propriedades consideradas diuréticas. Por isso, é indicado para problemas renais, como bexiga e rins. Auxilia também em tratamentos de cistite e gota, bem como ajuda em inflamações e dores.
Seus elementos tóxicos não são elevados, contudo, se consumido em excesso, pode provocar riscos à saúde.
Animais como o gado costumam ser a principal vítima de seus efeitos toxicológicos. Se o cipó estiver disponível em fartura, os animais podem consumi-lo em grande quantidade, ocasionando a intoxicação.
Os sintomas começam a surgir depois de 24 horas e se manifestam desse modo:
- Animal deitado e não conseguindo se levantar;
- Tremores musculares;
- Andar rígido;
- Ele se joga no chão ao menor toque em seu corpo.
Em alguns casos, os sintomas podem se intensificar repentinamente.
Tipos de plantas tóxicas
Segundo levantamento da Fundação Osvaldo Cruz, todos os anos, cerca de 2 mil pessoas são envenenadas por plantas tóxicas, a maioria delas, 60%, crianças.
Conheça quais são as plantas tóxicas mais comuns no Brasil.
Urtiga
Conhecida popularmente como urtiga brava. O nome científico é Fleura aestuans L.
A parte tóxica dessa planta se encontra nos pelos do caule e nas folhas. O contato com a urtiga provoca dor, irritação, inflamação, bolhas e coceiras.
Aroeira
Popularmente conhecida como pau-de-bugre. O nome científico é Lithraea brasiliens March.
A parte tóxica está presente em toda a planta.
O contato ou até a aproximação causam reação alérgica como bolhas, vermelhidão e principalmente coceira. A ingestão provoca desconfortos gastrointestinais.
Copo-de-leite
De nome científico Zanttedescha aethiopica Spreng, toda a planta é tóxica.
O contato e a ingestão podem provocar queimação, inchaço dos lábios, náuseas, vômitos, dificuldade de engolir e asfixia. Contato com os olhos provoca irritação e lesão da córnea.
Outras plantas tóxicas:
- Espirradeiras;
- Avelós;
- Comigo-Ninguém-Pode;
- Pinhão-Roxo;
- Mandioca-Brava;
- Bico-de-Papagaio;
- Chapéu-de-Napoleão.
Essas plantas, junto à timbó, sem dúvida, são as que mais causam intoxicação no país.