Pecuária

Matrinxã é peixe agressivo e popular na pesca esportiva

Matrinxã é peixe agressivo e popular na pesca esportiva
matrinxa

Dentre os peixes de água doce do Brasil, podemos destacar o matrinxã, popularmente conhecido como jatuarana. Sua espécie faz parte da fauna aquática da Amazônia e é de grande interesse para a piscicultura comercial local; e sua criação também é amplamente requisitada por piscicultores, já que esse peixe faz parte do cardápio dos consumidores da região.

Além disso, o matrinxã também é uma ótima opção para a pesca esportiva. Leia o artigo e descubra suas características e o porquê desse peixe ser tão demandado.

  1. O que é matrinxã?
  2. O que o peixe matrinxã come?
  3. Pescaria de matrinxã
  4. Criação de matrinxã no Brasil
  5. Sistema de cultivo do matrinxã
  6. Reprodução do matrinxã
  7. Migração do matrinxã
  8. Matrinxã em cativeiro
  9. Alimentação do matrinxã em cativeiro
  10. Matrinxã enlatado
  11. Preservação do matrinxã
  12. Peixe matrinxã

Matrinxã

O que é matrinxã?

O matrinxã, de nome científico Brycon cephalus, é um peixe de escamas com corpo comprido, alongado e alto. Possui coloração prateada, sendo as nadadeiras alaranjadas e a sua nadadeira caudal de cor mais escura.

Agressivo e com um rápido crescimento, o matrinxã é demandado tanto para a pesca esportiva quanto para a criação.

Na região umeral (logo acima da sua nadadeira peitoral), há uma grande concentração de pigmento, formando uma mancha escura e arredondada. Seus dentes são multicuspidados e fortes, sendo enfileirados em sua maxila superior.

Além disso, o peixe matrinxã pode apresentar crescimento rápido, inclusive, ao se alimentar de rações artificiais. Em cativeiro, o peixe consegue alcançar 1,5 quilos em cerca de um ano, um ótimo tamanho para a sua comercialização.

No geral, o peixe pode atingir 80 centímetros de comprimento e pesar 5 quilos.

O que o peixe matrinxã come?

O peixe matrinxã é onívoro, consumindo tanto alimentos de origem animal quanto de origem vegetal. Por isso, ele se alimenta de:

  • sementes;
  • frutos;
  • flores;
  • pequenos peixes e
  • insetos.

O peixe pode se alimentar, inclusive, de pequenos peixes de sua mesma espécie. Ou seja, apresenta canibalismo.

Caso haja criação de matrinxã, sua alimentação pode ser artificial, ou seja, através de ração. Mesmo nesse caso, há um bom crescimento do peixe. Assim, como explicado no artigo, em um ano o peixe pode pesar cerca de 1,5 quilos, tornando a sua criação uma ótima opção para comercialização e agricultura familiar.

Devido ao seu sabor, a população local aceita o peixe na culinária local. Ele habita o Tocantins e em bacias amazônicas. Seu consumo é comum, também, por população ribeirinha, bem como em comunidades indígenas.

Com a piscicultura e o aumento da criação em cativeiro, o peixe passou a ser comercializado, também, em outras regiões do país. Já o seu habitat natural são os rios e lagos com água clara e limpa. O matrinxã consegue, ainda, resistir a águas frias e ácidas. Ele costuma ficar próximo a estruturas em que possa espreitar presas, como troncos submersos.

Pescaria de matrinxã

A pescaria de matrinxã é bem comum, tanto na pesca esportiva quanto para comercialização. Devido a sua agressividade, o peixe torna-se atração para a pesca esportiva e, devido ao seu rápido crescimento e sua carne saborosa, torna-se uma ótima opção para a criação e comercialização.

O matrinxã ataca facilmente as iscas na superfície, porém o peixe é desconfiado. Portanto, tenha preferência por locais com pouca movimentação.

Como seus dentes são afiados, podem cortar as linhas. Assim, para ajudar, você pode utilizar um shock leader de fluorcabono, ou pode encastoar seu anzol. Caso utilize iscas artificiais,  prefira as que imitem peixes pequenos ou insetos. Você também pode utilizar miçanga para simular sementes e frutos.

Como o matrinxã é onívoro, o pescador pode utilizar, como isca natural, frutinhas, massinhas (de preferência colorida e que imite algum fruto ou semente da região) e lambari (peixe que o matrinxã costuma comer, quando não encontra muitas frutas e sementes).

Criação de matrinxã no Brasil

A pesca e a criação de matrinxã são atividades econômicas de grande importância no Brasil. No ano de 2019, o matrinxã e o tambaqui foram os peixes responsáveis por 97% de todo o pescado produzido em cativeiro no estado do Amazonas. Dessa forma, somente essas duas espécies foram responsáveis por algo em torno de sessenta e sete milhões de reais.

Além disso, a criação de matrinxã teve um aumento de quase 5% em 2019, com relação a 2018. De acordo com o levantamento do IBGE, a criação de matrinxã alcançou mil oitocentos e trinta e oito toneladas no Amazonas. Atualmente, a criação da espécie é feita em trinta e dois municípios. Os principais são:

  1. Rio Preto da Eva (setecentos e noventa e cinco toneladas);
  2. Manaus (trezentas toneladas);
  3. Manacapuru (cento e oitenta toneladas);
  4. Presidente Figueredo (cento e oitenta toneladas).

Grande parte desse crescimento se deve à pescaria artesanal, onde são utilizadas redes de espera tipo malhadeira para capturar o animal em seu habitat natural. Além disso, pescadores esportivos apreciam a espécie. Então, o matrinxã tem sido bastante requisitado pelos pesqueiros da região sudeste de São Paulo.

Outro fator que contribui para o aumento da criação de matrinxã é o bom desenvolvimento e propagação da espécie em cativeiros, o que favorece a comercialização mais rápida e melhor aproveitamento dos viveiros de criação. Ademais, o peixe é alvo de diversos estudos científicos relacionados à diminuição do canibalismo e desova induzida.

Veja, a seguir, as melhores práticas para criação de peixe matrinxã em cativeiro.

Matrinxã

Sistema de cultivo do matrinxã

De forma geral, o matrinxã é bem resistente ao manejo em viveiros. Os cultivadores pode criá-los em sistemas semi-intensivos e extensivos, em monocultivo ou policultivo. Conduto, o indivíduo precisa ficar atento à alta densidade, pois o estresse causado por essa condição engorda e afeta a reprodução do animal.

De acordo com o artigo “Interação do exercício de natação sustentada e da densidade de estocagem no desempenho e na composição corporal de juvenis de matrinxã Brycon amazonicus”, de Arbeláez-Rojas e Moraes, a melhor densidade para criação de matrinxã é de 176 peixes juvenis (18,4±0,1g) por metro cúbico.

Conforme o estudo, essas condições resultaram em melhor crescimento, desempenho e condicionamento físico dos animais.

Por outro lado, se o matrinxã for criado em gaiolas flutuantes, a densidade pode variar entre 150 e 200 peixes por metro cúbico. Contudo, isso pode variar de acordo com a finalidade da criação.

Por exemplo, no cultivo de alevinos para venda, eles podem ser cultivados em densidade de 120 larvas por metro cúbico. Já no caso de criação de alevinos, o ideal é manter a densidade de 30 larvas por metro cúbico, pois isso ajuda a manter o tamanho uniforme maior.

Além disso, o cultivador precisa levar em consideração os parâmetros físico-químicos da água. Conforme a revisão bibliográfica “Criação de Matrinxã em cativeiro”, os parâmetros ambientais mínimos e máximos são, respectivamente:

  • Oxigênio: 2,03 mg/L-1 e 73,5 mg/L-1;
  • Temperatura: 22,46 °C e 30,86 °C;
  • pH: 5,64 e 8;
  • Alcalinidade: 8,13 mg/L e 87,82 mg/L;
  • Turbidez: 2,11 NTU e 50 NTU.

Embora o matrinxã suporte baixíssimas concentrações de oxigênio, o ideal é que ela seja superior a 4,0 mg/L-1. Os cultivadores devem tomar esse cuidado porque, para a maioria dos peixes tropicais, níveis de concentração de oxigênio dissolvido inferiores a isso tornam o meio estressante.

Reprodução do matrinxã

Quando manejado corretamente, é possível propagar o matrinxã de forma satisfatória em cativeiro. De fora geral, a espécie tem alta fecundidade.

As fêmeas produzem cerca de 10 óvulos, o que representa 15% do seu peso. Contudo, a concentração de machos e fêmeas pode variar de acordo com a espécie, a oferta de comida e outros fatores ambientais.

Para criação em cativeiro da espécie Brycon amazonicus, a proporção sexual é de duas fêmeas para um macho. Por outro lado, para a espécie Brycon cephalus, é preciso que existam pelo menos nove fêmeas para cada macho.

Quando em seu habitat natural, o matrinxã se reproduz entre os meses de dezembro e janeiro, na época das enchentes da região amazônica, pois elas favorecem a sua migração. Além disso, o embrião de matrinxã tem fecundação e desenvolvimento externo, sem cuidado parental.

Matrinxã

Migração do matrinxã

O peixe matrinxã é uma espécie migratória. Em resumo, os especialistas dividem a migração desse animal em seis fases, ou tipos:

  1. Baixada para desova;
  2. Rio acima pós-desova;
  3. Baixada do peixe gordo;
  4. Arribação;
  5. Período de pré-desova;
  6. Área de criação.

A primeira fase da migração, a baixada para desova, acontece no início das enchentes na região amazônica, entre os meses de dezembro de fevereiro. Nessa etapa, os cardumes de matrinxã adultos se descolam para poder se reproduzir. Geralmente, essa fase acontece durante o dia.

Na segunda fase da migração, rio acima pós-desova (ou migração trófica), os cardumes de matrinxã deixam o local da desova em procura de alimento em novos ambientes. Essa fase da migração ocorre entre os meses de janeiro e abril.

Em seguida, durante a baixada do peixe gordo, os peixes retornam ao seu antigo habitat. Nesse período, o peixe se encontra em repouso gonadal e com grande reserva de gordura. A baixada do peixe gordo ocorre entre os meses de abril e agosto, quando os rios começam a diminuir em volume por causa das secas.

A quarta fase de migração, a arribação, acontece nos meses de agosto a setembro. Nessa etapa, os cardumes de matrinxã são compostos por peixes jovens e com pouco depósito de gordura.

Então, no período de pré-desova, os indivíduos adultos e jovens se acomodam em poços, corredeiras ou no curso médio dos igarapés e, durante a noite, procuram por lugares tranquilos. Nessa fase, que acontece entre outubro e dezembro, o matrinxã adulto passa pela maturação gonadal.

Por fim, durante os meses de janeiro e julho, ocorre a área de criação. Nesse período de fim das enchentes e início das secas, os matrinxãs nascidos na última desova se descolam em direção aos afluentes do Rio Amazonas.

Matrinxã em cativeiro

De forma geral, os peixes migratórios não se reproduzem em cativeiro, pois não conseguem atingir a maturação sexual e completar a desova. Contudo, é possível induzir esse processo artificialmente com a aplicação de hormônios.

A reprodução deste peixe em cativeiro não é recomendada para piscicultores iniciantes. É um processo muito complexo e que exige conhecimentos técnicos avançados. Além disso, a administração de hormônios deve ser feita com cautela, pois pode afetar as condições sanitárias animais e humanas.

Porém, quando a propagação do peixe matrinxã é feito da forma correta, os resultados podem ser bem satisfatórios.

Alimentação do matrinxã em cativeiro

Por outro lado, a alimentação do peixe matrinxã em cativeiro é considerada simples de administrar, pois o seu metabolismo se adapta ao tipo de nutriente presente na dieta. Por isso, a espécie é capaz de aproveitar de forma eficiente os carboidratos, gorduras e proteínas para realizar suas funções biológicas.

No caso da ração artificial, é possível oferecer larvas a partir do quarto dia de vida. Contudo, a oferta de alimentos vivos é mais indicada, pois ajuda a diminuir o canibalismo.

Além disso, para a primeira alimentação das pós-larvas, também é indicado oferecer alimentos vivos nas primeiras vinte e quatro horas.

Ademais, alguns estudos constaram que enriquecer a ração com hormônios reduz o canibalismo, aumenta a sobrevivência das larvas e favorece o crescimento do matrinxã. Para isso geralmente é usado tirosina como precursor, pois esse aminoácido estimula a produção hormonal.

Matrinxã enlatado

Além da pesca comercial e esportiva, o matrinxã tem sido considerado como uma alternativa para enlatamento. Em uma pesquisa publicada pela Embrapa em agosto de 2015, o produto teve bons resultados de aceitação de intenção de compra.

Os pesquisadores processaram e enlataram o peixe matrinxã no mesmo padrão da sardinha-verdadeira. Em seguida, enviaram as amostras para 107 avaliadores não treinados para que eles analisassem a aparência e a aceitação global do produto.

Os avaliadores eram de ambos os sexos, com idade entre 18 e 65 e renda familiar entre um e trinta salários mínimos. Além disso, mais de 77% dos entrevistados afirmaram que têm o hábito de comprar pescado em conserva.

O resultado da pesquisa mostrou uma boa aceitação do peixe matrinxã enlatado. A nota média de aceitação global do produto foi 8, o que corresponde à categoria “gostei muito” em uma escala de um a nove. Além disso, metade dos avaliadores atribuíram nota máxima ao provar o produto.

Contudo, a sua aparência em conserva foi menos aceita, ficando na categoria “gostei ligeiramente”. O principal motivo dessa avaliação foi o aspecto turvo, com escamas soltas, e a presença de manchas que lembram o formato de olho, características da espécie.

Mesmo assim, 90% dos entrevistados afirmaram que comprariam o peixe matrinxã enlatado se ele custasse entre 3 e 5 reais. Ademais, 58% dos avaliadores responderam que estariam dispostos a pagar entre 4 e 7 reais no produto, valor que está bem acima do preço médio de uma lata de sardinha.

Matrinxã

Preservação do matrinxã

Infelizmente, devido à pesca comercial e esportiva, bem como a modificação do seu habitat por causa da construção de barragens hidrelétricas, o matrinxã está em risco de extinção.

Por isso, no começo do ano de 2020, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Paraíba (CODEVASF) soltou cerca de cinquenta mil alevinos no lago da barragem de Três Marias e em córregos e rios do Alto e do Médio São Francisco.

Como a espécie corre risco de extinção na bacia do São Francisco, a produção de matrinxã em laboratório foi intensificada para ações de peixamento.

De acordo com a CODEVASF, os alevinos soltos tinham cerca de 25 centímetros de comprimento e pesavam aproximadamente 200 quilogramas. Com esse tamanho, os animais já estão aptos para se defender dos seus predadores naturais.

Conforme informado pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Paraíba, os envolvidos dividram o trabalho em ações de soltura, distribuídos da seguinte forma:

  • Córrego Riacho Frio: dez mil alevinos de matrinxã;
  • Córrego Extrema Grande: cinco mil alevinos de matrinxã;
  • Lago da barragem de Três Marias: vinte mil alevinos de matrinxã;
  • Barragem Bico da Pedra: dez mil alevinos de matrinxã e cinco mil alevinos de curimatã-pacu;
  • Foz do Rio Picão: cinco mil alevinos de matrinxã e dez mil alevinos de curimatã-pacu;

Com essa ação, a CODEVASF espera repovoar a bacia do Rio São Francisco e garantir a renda da população ribeirinha.

Peixe matrinxã

De fato, como pudemos observar, o matrinxã é um peixe de grande importância para a economia nordestina. Além disso, ele tem ganhado cada vez mais espaço na pesca esportiva graças ao seu comportamento agressivo que favorece a atividade.

Quando em seu habitat natural, o peixe matrinxã pratica a migração para poder amadurecer sexualmente e se reproduzir. Por isso, quando você cria esse peixe em cativeiro, a sua reprodução deve ser estimulada através da aplicação de hormônios. Contudo, essa prática deve ser feita com cuidado, pois pode trazer consequências aos animais e humanos. Sempre quando falamos em hormônios, todo cuidado é necessário.

Por outro lado, a criação do matrinxã em cativeiro é relativamente fácil. De forma geral, ele se adapta bem a altas densidades de peixes e pode ser criado sozinho ou com outras espécies. Além disso, este peixe consegue se desenvolver em águas pobres em oxigênio, embora não seja recomendada uma concentração inferior a quatro miligramas de oxigênio por litro.

Em relação à alimentação, o peixe também é bastante versátil. Naturalmente ele se alimenta de sementes, frutos e outros peixes menores, inclusive praticando o canibalismo. Quando em cativeiro, a espécie aceita bem a ração artificial a partir do quarto dia de vida, embora o alimento vivo ajude a reduzir o canibalismo.

Gostou de conhecer o peixe matrinxã? Então, continue navegando no portal Agro 2.0 para aprender ainda mais sobre peixes e outros animais, bem como aspectos relacionados ao agronegócio, agricultura, meio ambiente e veterinária.

ACESSO RÁPIDO
    Joana Gall
    Joana Gall é técnica em agropecuária pelo Instituto Federal Catarinense e atua na pesquisa sobre as mulheres rurais de Camboriú, em Santa Catarina.

    Leia também