Agricultura

Agricultura itinerante e a sua influência no mundo agro

Agricultura itinerante e a sua influência no mundo agro

A agricultura itinerante é, há séculos, uma alternativa mais barata de produção. Assim, agricultura itinerante é uma técnica milenar utilizada principalmente em países subdesenvolvidos como forma de agricultura de subsistência.

Portanto, a agricultura itinerante focada em suprir as necessidades de quem a cultiva, sem fins lucrativos. E ainda hoje a agricultura itinerante segue muito utilizada por famílias de agricultores.

  1. O que é agricultura itinerante?
  2. Principais características da agricultura itinerante?
  3. Como funciona a agricultura itinerante?
  4. Onde é praticada a agricultura itinerante
  5. História da agricultura itinerante
  6. Agricultura itinerante no Brasil
  7. Agricultura familiar
  8. Impactos ambientais da agricultura itinerante
  9. Agricultura itinerante e empresarial
  10. Desvantagens da agricultura itinerante
  11. Terras abandonadas pela agricultura itinerante
  12. Agricultura itinerante na Amazônia
  13. Agricultura itinerante e o meio ambiente
  14. Alternativas à agricultura itinerante

 Agricultura itinerante

O que é agricultura itinerante?

A agricultura itinerante é uma alternativa para quem possui condições de cultivar seus próprios alimentos sem dependência dos produtores de larga escala. Isso, com o princípio de um sistema de produção agrícola que atende às necessidades de seu produtor, sem qualquer vínculo com o mercado consumidor.

A agricultura itinerante consiste na queima da mata e remoção de trechos densos da floresta que tendem a deixar resíduos no solo. Ela trabalha para que seja possível renovar e semear a terra. Isso porque permite que o solo antes infértil e abandonado esteja pronta para o cultivo.

O uso de materiais frutos de abates e lixo orgânico são auxiliares para criar uma espécie de adubo natural para o solo. Desta maneira, esse sistema de produção agrícola é feito em pequenas e médias escalas.

Principais características da agricultura itinerante

  • Prática familiar

Por ser uma terra para cultivo próprio, seu cuidado dispensa mão de obra cara. Geralmente, é a família que se encarrega de plantar e cultivar as sementes.

  • Insegurança

Esta é uma desvantagem deste cultivo. Por ter início através de uma queimada, o processo não garante que a terra seja 100% fértil sem auxílio de adubação correta. Por isso, a terra acaba abandonada pelo agricultor em muitas ocasiões, deixando para trás níveis de destruição perceptíveis.

  • Praticidade no plantio

Os principais alimentos produzidos por estas famílias são práticos de consumo e plantio. Entre eles, podemos destacar milho, rabanete, nabo, inhame e mandioca, entre outros.

  • Rusticidade

Não utiliza qualquer tipo de tecnologia no plantio, como construção de trechos de águas, aplicação de agroquímicos ou adubos específicos, entre outros.

  • Transição de terras

Agricultura nômade é o outro nome para esse tipo de agricultura. Isso porque a terra utilizada para plantio não é de propriedade de seu produtor. O domínio da extensão de terra entre um produtor e outro não é determinado.

Por isso o seu nome vem da palavra itinerante, ou seja, o indivíduo que transita, viaja e se desloca constantemente.

 Agricultura itinerante

Como funciona a agricultura itinerante?

Este sistema de produção agrícola é utilizado especialmente em países da Ásia, África e alguns da América Latina – principalmente em zonas de agricultura tradicional.

Podemos encontrar a agricultura itinerante em diferentes tipos de plantação, que vão das menores e mais caseiras até as de proporções maiores.

Onde é praticada a agricultura itinerante?

Entre os exemplos mais comuns em que se pode encontrar esse tipo de agricultura, podemos citar:

  • jardins de pequeno/médio porte
  • terrenos baldios
  • pequenos jardins verticais nas construções modernas

Por não priorizar técnicas de produção em massa e dar preferência para cultivos menores, o método de produção da agricultura itinerante tem perdido sua popularidade e se torna cada vez mais incomum na atualidade.

História da agricultura itinerante

Não há nenhum registro sobre o começo da agricultura itinerante. Antes da criação de tecnologias modernas, a agricultura baseava-se na busca de terras virgens cobertas por vegetações.

Machado e foice eram as ferramentas usadas para derrubar a mata. Os agricultores ateavam fogo ao restante para limpar o terreno e dar início ao plantio manual.

A produção agrícola na nova área seguia por alguns anos até o solo se esgotar. O terreno virava pastagem porque não tinha perspectiva econômica e condições para o cultivo. Como resultado, a área ainda era útil para o produtor mesmo sem plantio.

O ciclo se repetia alguns anos após o repouso. Mas, desta vez, em um solo mais pobre do que aquele do primeiro abate. Logo após o esgotamento total da terra, os produtores migravam para outras regiões à procura de mata virgem.

Esse é o percurso da agricultura itinerante, ou nômade. Apesar dos avanços da indústria no agronegócio, a prática continua até hoje, mas com menos proporção do que nos tempos antigos.

Agricultura itinerante no Brasil

A agricultura itinerante no Brasil era padrão até a década de 1960. Isso nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, porque no Norte e Nordeste, a técnica ainda é a única forma de subsistência para várias famílias.

A história revela que os povos indígenas nas florestas tropicais foram os primeiros a adotar essa forma de cultivo primitiva. Porém, há relatos do uso dessa técnica em culturas ainda mais antigas. No mundo, o sistema caiu em desuso no começo do século 20, exceto em países em desenvolvimento, na África, Ásia e nas Américas do Sul e Central.

A agricultura itinerante no Brasil era muito utilizada no período colonial nas lavouras de cana-de-açúcar e algodão. Sem dúvida, essas produções tiveram um grande papel para a expansão da economia nacional, que dependia do campo.

Contudo, o cultivo no sistema de corte e queima é a principal causa de impactos ambientais. Isso vale em especial no que diz respeito à redução de áreas de vegetação nativa e redução de solos férteis. Ainda na época do Brasil Colônia, já era possível apontar problemas em relação à pobreza do solo, escassez de plantas e desgaste ambiental.

Hoje em dia, os entraves do passado são quase difíceis de reverter. Como exemplo, podemos destacar a destruição ou redução das florestas nativas, a extinção de espécies animais, erosão do solo e queda na produção.

 Agricultura itinerante

Agricultura familiar

Entre as características da agricultura itinerante, está o uso de técnicas que foram passadas por gerações. Como já foi falado, trata-se de uma agricultura familiar.

Para a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), as práticas rurais guiadas por famílias são vitais no combate à pobreza. Além disso, também ajudam a aquecer a economia do país.

De acordo com o mais recente Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 23% de toda a produção do setor é baseada em produções de núcleos familiares. Isso gera mais de 100 bilhões de reais por ano.

Outro dado que chama atenção é o número de locais dispostos como agricultura familiar no Brasil. Afinal, correspondem a 87% de todo o cenário rural.

Porém, parte dessas lavouras não são usadas em exclusivo para a venda e exportação. É o caso da agricultura de subsistência. Ou seja, esse é o tipo de agricultura voltado para suprir as necessidades do produtor e de sua família. Certamente, essa é outra característica da agricultura itinerante.

Impactos ambientais da agricultura itinerante

Nesse tipo de cultura, os métodos de produção baseiam-se em derrubar partes de florestas para depois atear fogo aos restos que foram cortados. As técnicas usadas são arcaicas, desde o plantio até a colheita e cuidado de solo. Em resumo, a tecnologia empregada é o trabalho manual com uso de machado, foice e fogo.

O abate e corte do mato são feitos em solos cobertos com floresta densa para limpar a região antes do cultivo. Os materiais que sobraram ainda são úteis no futuro para lenha, vedações e construções.

Após a queima, o solo fica fértil por um período que varia entre dois e três anos. Em alguns casos, pode chegar ao limite de seis anos. Passado o período fértil, o terreno fica para trás porque está sem condições para o plantio. Então, o agricultor migra em busca de uma nova terra. Lá, irá colocar em prática o mesmo processo.

Nem mesmo o período de pousio é capaz de tornar o solo fértil de novo com os nutrientes básicos. Em geral, os agricultores deixam a terra para descansar por até cinco anos, quando não usam o sistema de corte e queima.

Mas esse tempo de pousio não é o ideal para renovar um solo queimado. O terreno precisa de 10 e 20 anos para fazer surgir uma nova floresta de formal natural. Quando se recupera por completo, o solo torna-se apto para o cultivo. Todavia, a intensa repetição do processo na mesma terra pode deixá-la incapaz para o cultivo de modo definitivo.

 Agricultura itinerante

Agricultura itinerante e empresarial

A agricultura itinerante e empresarial são coisas bem diferentes. A primeira trata-se de uma uma produção agrícola focada na subsistência. Dessa forma, em geral, a prática não visa o lucro, o oposto do cultivo empresarial.

Os ganhos são voltados ao consumo próprio, mas com a possibilidade de venda dos produtos que sobram. Esse sistema é comum em áreas pequenas e médias. Nesses locais, o principal objetivo é o de colocar a comida na mesa do produtor e sua família.

A agricultura nômade não usa as técnicas corretas de manuseio, como adubar e construir trechos de água, que aproveitam a ação das chuvas. Então, a terra esgota-se de maneira mais rápida e leva o produtor a abandoná-la.

Ou seja, a migração do produtor permite com que tudo se repita. Esse ciclo gera mais desmatamento, mesmo que seja sem a intenção de fazê-lo. Apesar disso, é prudente considerar a realidade vivida pelos itinerantes.

Desvantagens da agricultura itinerante

A falta de técnicas racionais de agricultura provoca um maior cansaço do terreno. A consequência é um desmatamento mais veloz.

A queima da mata padrão do terreno impede a ação dos micro-organismos presentes no solo. Como resultado, a fertilidade do mesmo diminui devido à redução de nutrientes.

Além de deixar o solo infértil, sem dúvida, as queimadas liberam gases danosos à atmosfera. Isso contribui para a poluição do ar e, como efeito, o aquecimento global. O sistema ainda destrói o habitat de várias espécies de animais, aumenta a erosão do solo e acarreta o surgimento de doenças respiratórias.

Ao invés de usar o fogo, os produtores deveriam ter um maior cuidado com os terrenos. O ideal seria utilizá-lo de maneira mais responsável e eficaz, sem degradá-lo.

Então, qual é o melhor processo? O mais correto é usar a adubação adeqada e construir passagens de água ligadas a rios, riachos ou canais. Esses caminhos são eficazes porque guardam a água da chuva para o uso em períodos de seca.

Terras abandonadas pela agricultura itinerante

Visto que pode demorar até 20 anos para o solo ser recuperado, o que fazer com a terra infértil ao final de cada ciclo?

Muitos agricultores nômades têm a resposta na ponta da língua. O espaço vai ser destinado para a pecuária. E é isso que contribui ainda mais para o aumento do desmatamento das florestas. Uma vez usado para a criação de gados, aquele solo nunca será usado para a agricultura de novo, ou mesmo para o reflorescimento das espécies vegetais nativas.

Ao contrário do uso controlado como técnica agrícola, a tecnologia de machado-foice-fogo é usada também só para a pecuária, o que pode ser descrito como crime. Essa é a causa do avanço sem controle das queimadas na Amazônia, por exemplo.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelam o número recorde de incêndios em 2020. A principal suspeita é ação de pecuaristas que desmatam a floresta para a criação de pastos. Até 11 de outubro, o estado do Amazonas registrou 15.700 focos. Em todo ano de 2005, o total de casos foi de 15.644 casos. O ano de 2005 era, até então, o pior da série histórica.

Pelo segundo ano, o fogo em nossos biomas ganhou espaço na mídia – não apenas no Brasil, mas também em outros países.

Além da Amazônia, vale destacar também os casos do Cerrado e no Pantanal. As posições polêmicas do governo federal sobre o problema não agradaram, em especial os ecologistas e defensores do meio ambiente.

Agricultura itinerante na Amazônia

O grande desafio das últimas décadas e que se mantém presente é equilibrar a expansão da agropecuária e o avanço do desmatamento na maior floresta tropical do mundo. A Amazônia ocupa quase metade do território nacional (49,29%) e se estende por nove estados do país.

O solo da região não tem sido devastado só pelos grandes produtores agropecuários. Só no estado do Amazonas, mais de 80% das áreas rurais são de agricultura familiar, de acordo com o IBGE.

A agricultura itinerante também é uma realidade por lá. Isso, mesmo apesar dos riscos à natureza ao redor e a ineficácia dos sistemas de produção agrícola da técnica de corte e queima.

O cultivo em quase toda a região Amazônica é a produção de feijão, milho, malva, juta, frutas, arroz, algodão, entre outros produtos diversos e importantes.

 Agricultura itinerante

Agricultura itinerante e o meio ambiente

Em terras pouco férteis, como é o caso da Amazônia – com algumas exceções –, o solo se esgota mais rápido. Por isso, a migração acontece com mais frequência. Dessa maneira, o cultivo avança e afeta a floresta, que a cada ano é ainda mais alvo da ação humana.

O fogo aumenta a poluição do ar ao lançar no ar gases tóxicos aos seres humanos e ao meio ambiente. Entre eles: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O), ozônio (O3) e outros.

As chamas na mata ainda causam problemas de infiltração no terreno. A água das chuvas que não penetram no solo correm pelo campo e carregam os resíduos que ficam nos leitos dos rios. Isso provoca o assoreamento, que altera ou mesmo limita ao fim o curso de rio. O processo acontece devido ao acúmulo de vários sedimentos nesse espaço de terra onde havia antes o percurso de um rio ou riacho.

Como já visto, ao explorar terras para cultivo, os agricultores nômades retiram a mata local. A ação, portanto, não ajuda em nada para a geração de recursos naturais capazes de conter a formação de resíduos.

A solução para a recuperação das terras de lavouras pobres na região Amazônica seria o uso de insumos agrícolas. Ou seja, são recursos que melhoram a qualidade e a produção dos plantios. Por exemplo: máquinas, fertilizantes, defensivos e sementes alteradas.

Os custos de peças mais modernas são altos no Norte do país. O cenário oposto ocorre nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Assim, até que seja revisto o obstáculo acerca dos preços dos insumos, a agricultura itinerante é o recurso mais viável para os pequenos produtores dessa região.

Alternativas à agricultura itinerante

Assim como em todo planeta, a agricultura tem causado a destruição do meio ambiente em várias escalas. Por outro lado, o sistema nômade torna as terras para o cultivo mais escassas e é a principal fonte de subsistência para inúmeras famílias.

Com base nisso, não basta apenas proibir as queimas para reduzir diversos problemas ambientais. O melhor a ser feito é traçar planos viáveis para desenvolver modos mais sustentáveis. Assim, podemos combinar tanto a preservação do ambiente como alimentar as famílias que dependem da agricultura para viver.

A sustentabilidade no sistema de produção deve estar ligada ao uso de tecnologias que permitam o cultivo de uma mesma área por vários anos. Substituir a agricultura nômade pode ser difícil, mas não é impossível. Porém, a solução deve levar em consideração as condições desses produtores.

Só para ilustrar, uma forma eficaz e barata é a execução de sistemas como a agrofloresta. Essa técnica contribui para o aumento da fertilidade dos terrenos, além de diminuir os impactos ambientais na produção. A agrofloresta faz o uso sustentável dos recursos naturais, ao contrário da agricultura itinerante.

ACESSO RÁPIDO
    Mayk Alves
    Fundador do Portal Vida no Campo e Agro20, Mayk é neto de Lavradores. Desde cedo esteve envolvido com as atividades do campo e, em 2014, uniu sua paixão pela comunicação com o tradicionalismo do campo. Tem como missão levar informações sobre o agronegócio de forma dinâmica, interativa e sem filtros.

    Leia também