Agricultura

Coivara é técnica que divide opiniões no mundo da agricultura

Coivara é técnica que divide opiniões no mundo da agricultura

Coivara é muito empregada por pequenos proprietários de terra, e tradicionalmente utilizada em comunidades quilombolas e indígenas. A coivara é também conhecida como agricultura de corte e queima. É uma técnica utilizada por milhões de pessoas ao redor do mundo. Acontece, principalmente, nas áreas de florestas tropicais.

Enquanto muitos especialistas afirmam que a coivara é uma técnica agrícola rudimentar que gera o esgotamento do solo de forma rápida, exigindo descansos que podem chegar até 12 anos; outros defendem que ela pode conservar florestas.

  1. O que é agricultura de coivaral?
  2. Para que serve a coivara?
  3. Consequências da coivara
  4. Significado de coivara
  5. Técnica de coivara
  6. Como funjciona a agricultura de coivara?
  7. Como se faz agricultura de coivara?
  8. Tipos de técnicas agrícolas
  9. Impactos negativos da coivara
  10. Comunidades que praticam a técnica da coivara
  11. Qual a origem da coivara?
  12. A coivara na atualidade

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O que é agricultura de coivara?

De modo geral, o significado de coivara corresponde a uma agricultura itinerante. Nesse tipo de técnica, o plantio permanece por um breve período. E, depois dele, o solo passa um grande tempo sem produzir.

Ela é também chamada de agricultura de queima, já que é uma técnica que prevê as queimadas entre uma safra e outra.

Quando a coivara é empregada, as etapas do plantio são: corte, derrubada e queima da floresta nativa e, então, rotação de culturas (que, geralmente, utiliza alimentos como milho, feijão e arroz). A plantação intercalada entre diferentes espécies acontece para melhorar a fertilidade do solo e eliminar as pragas.

Para que serve a coivara?

Quando os produtores empregam a coivara em grandes áreas de florestas tropicais, com pouca população e em que a terra passa por longos períodos de descanso, pode ser uma técnica ecológica e sustentável. E, principalmente, que não prejudica a fertilidade do solo.

Um exemplo é a Amazônia, cuja grande maioria dos tipos de solo são pobres – exceto a terra roxa e os solos antrópicos. Nos casos em que a terra não é tão fértil, a queima da biomassa acumulada durante a recuperação florestal age para aumentar os nutrientes do solo. E, assim, prepará-lo através das cinzas.

Então, pode acontecer de as quantidades de potássio, cálcio e magnésio presentes naquele solo aumentarem em larga escala.

Consequências da coivara

Mas a coivara também pode trazer prejuízos ao solo. Confira, abaixo, alguns deles:

  • processos erosivos: quando acontece a queima da vegetação e, em seguida, o cultivo, o ciclo dos nutrientes se desestabiliza. O resultado disso é a perda de nutrientes, tanto do solo como da vegetação. Resultando, assim, na degradação do solo e gerando risco de erosões. Mas, como dito anteriormente, essa técnica aumenta os níveis de potássio, cálcio e magnésio presentes na terra por meio da queima da biomassa vegetal. Por outro lado, as quantidades de nitrogênio e de fósforo dependem da mineralização da matéria orgânica queimada.
  • perda da biodiversidade: a agricultura de queima é uma das causas do desmatamento. Gerando, assim, a perda de habitats e restringindo a recuperação de florestas secundárias. Com isso, a biodiversidade presente nesses ecossistemas tendem a se perder.
  • aquecimento global: além de ser uma das causas do desmatamento, a coivara aumenta a liberação de carbono e outros gases estufa. Assim, está diretamente ligada ao aquecimento global.

Ou seja, essa técnica pode trazer impactos negativos ao solo, à biodiversidade e à atmosfera. Mas, além disso, a coivara pode também causar prejuízos econômicos para o agricultor. Como, por exemplo, as consequências geradas pelo fogo acidental. Sem contar o impacto social da fumaça gerada pela queimada, que pode afetar diretamente a saúde pública.

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Significado de coivara

O significado de coivara, na língua indígena da qual deriva, é “pegar paus de roça”. Com isso, voltamos ao significado dito anteriormente de o que é coivara. Isto porque quando se pensa em pegar paus de roça, a ideia é de unir para a queimada. Que é o significado principal e o objetivo, afinal.

Essa expressão também significa uma pilha de gravetos que passaram por processo de queimada ou que estão separados para serem incinerados. O que é, de fato, o que acontece com o local em que se realiza a coivara.

Dessa forma, todos os significados dessa técnica levam ao mesmo entendimento de realização de queimada. O que já é conhecido há muito tempo, porém é cada vez menos utilizada.

A técnica vem de gerações de séculos atrás, mas está sendo ameaçada pelas diretrizes ambientais e pela dúvida do nível de benefício. Porém, isso você vai ver mais ao final do artigo.

Técnica da coivara

O preparo do local é necessário para que a coivara aconteça. Primeiramente, tudo que não for utilizado na plantação e que está em cima do solo, é reunido em um local.

Dependendo do tamanho do espaço, esses amontoados podem ocorrem em proporções menores e mais vezes. Geralmente o que se reúne são galhos, madeira, árvores cortadas e folhas secas.

Se for um espaço grande, esses amontoados ficam dispostos em fileiras para que o procedimento seja mais organizado.

Logo após, a coivara inicia, onde é ateado fogo e tudo começa a queimar. Só para quando restarem somente as cinzas de tudo que foi reunido. E é daí que os nutrientes enriquecem o solo, pois partem das cinzas que sobram da coivara.

Com a técnica da coivara, toda a vegetação que estava presente no local é devastada. Assim, dá espaço suficiente para que a plantação da cultura escolhida seja feita.

Como funciona a agricultura de coivara?

Após todo esse procedimento mencionado acima, os envolvidos aproveitam a agricultura de coivara por pouco tempo. Nesse tipo de técnica de plantação, não há exploração da terra por muitos anos consecutivos. Justamente porque não é a melhor técnica e nem a mais produtiva para cultivos.

Assim, depois de alguns anos de atividade agrícola no local, a terra fica um tempo muito maior sem nenhum tipo de plantação. Esse é um tempo para se recuperar. No entanto, não é suficiente para proporcionar nutrientes suficientes à terra ao ponto de se tornar extremamente produtiva.

Ademais, no meio tempo em que a terra recebe a plantação após a agricultura de coivara, o cultivo ocorre com variação do tipo de plantação. Isso é essencial para que o mínimo de proveito seja tirado dessa forma de agricultura.

Se não fosse assim, o solo seria menos rico ainda. Com o cultivo de apenas uma única espécie todas as vezes, o solo fica prejudicado e não tão fértil, ao contrário do que aconteceria com a variação de plantações.

Como se faz a agricultura de coivara?

A agricultura de coivara se faz com a derrubada de extensas áreas de mata, o que é extremamente negativo ao ecossistema. Além disso, é preciso que a terra fique em repouso de 3 a 12 anos depois do período de plantação.

Isso, é claro, não compensa a derrubada e o desmatamento causado. Por isso, os produtores utilizam essa técnica para a agricultura de subsistência, e não para a agricultura moderna. Isso porque, na agricultura moderna, as técnicas são mais avançadas, como você vai ver mais abaixo.

Portanto, para fazer a agricultura de coivara, antes de colocar fogo, é preciso desmatar a vegetação. Após, se reúne o fruto do desmatamento, conforme já explicado anteriormente, para que possa ser queimado.

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Tipos de técnicas agrícolas

Existem diferentes tipos de técnicas agrícolas. Em geral, um dos principais objetivos de todas as técnicas é garantir a melhora da qualidade do solo. Com isso, a produtividade agrícola é melhor.

  • Manutenção de cobertura permanente

Dentro disso, a manutenção de cobertura permanente é a primeira técnica. Nesse caso, essa técnica é essencial quanto os tipos de cultivos de plantio direto, pois permite a manutenção do solo.

A técnica consiste na cobertura do solo com camada de palha. Com isso, a palha protege o solo contra diversos impactos, como chuva. As gotas de chuva podem parecer inofensivas. Porém, no solo, podem causar grande impacto e diminuir a qualidade produtiva do plantio.

Ademais, essa técnica proporciona ciclagem de nutrientes, diminui os aumentos térmicos do solo e garante a preservação da atividade biológica do local. Isso se torna extremamente benéfico para o solo.

  • Rotação de culturas

Além dessa técnica, outra muito utilizada é a de rotação de culturas. Ou seja, trata-se de culturas diferentes. Com essa técnica, a qualidade do solo se mantém pela diversidade do cultivo.

Ocorre uma rotação de culturas, de forma que não é plantado sempre o mesmo tipo de cultivo. Assim, isso difere da agricultura moderna, por exemplo, que aposta sempre no mesmo tipo de plantação.

Com esse ciclo de rotação, a terra permanece com plantações durante todos os períodos do ano. Então, quando é época de colher determinado cultivo, já se pode plantar o próximo e assim sucessivamente.

Dessa forma, o solo não permanece com períodos de inatividade. Isso é bom para a manutenção dos nutrientes e a qualidade produtiva do local.

Ademais, na rotação de culturas, geralmente os produtores plantam três tipos de cultivos em um mesmo local. Com essa rotação, algumas culturas oferecem maior nível de nitrogênio, o que estimula a mineralização do solo. Com isso, os resultados são muito mais eficientes e proveitosos.

  • Ausência de revolvimento de terra

Além disso, outra técnica de agricultura é a ausência de revolvimento da terra. É muito comum que aconteça o revolvimento do solo nas plantações. Principalmente por escarificação, aração ou gradagem.

Porém, esse revolvimento é prejudicial ao desenvolvimento do plantio. Isso porque as temperaturas elevadas e grande quantidade de chuvas do clima tropical do país geram intemperismo à terra.

O que acontece no processo de revolvimento é a inversão de camadas existentes no solo. Com isso, ocorre a quebra de agregados, que são os responsáveis por garantir a proteção de matéria orgânica.

Quando se expõe a matéria orgânica com a troca de camadas, ela fica desprotegida de diversos agentes que causam a decomposição. Com isso, o resultado é que os estoques de carbono que o solo possui são esvaídos e degradados de forma muito rápida.

Quando acontece isso, o solo acaba ficando com característica erosiva e perde seus nutrientes. Como consequência, não consegue produzir as culturas de forma eficiente e satisfatória.

Portanto, o ideal é que o solo tenha o máximo de ausência de revolvimento. Assim, as camadas ficam protegidas e na ordem que devem ficar. Dessa forma, os nutrientes permanecem dentro da terra e não acabam em decomposição.

Essas são algumas das técnicas que mais se utiliza para tentar ter o máximo de aproveitamento no solo.

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Impactos negativos da coivara

Como brevemente mencionado no início do artigo, a prática de agricultura de coivara causa impactos negativos ao meio ambiente. Porém, agora você vai entender um pouco mais a fundo o porquê.

Primeiramente, quando as cinzas da coivara entram em contato com o solo, causam considerável alteração na composição química da terra do local. Com isso, depois que chove e a água precisa ser escoada, junto com esse escoamento vão muitas substâncias prejudiciais. E elas vão parar nas águas superficiais e subterrâneas.

Entre as substâncias que acabam entrando na água estão o potássio e os compostos nitrogenados. Dependendo da qualidade, essas duas substâncias são extremamente tóxicas aos organismos que vivem na água. Além disso, prejudicam os organismos vivos do solo.

Ademais, com isso, há redução na qualidade da água. Caso humanos ou animais consumam-na, problemas de saúde podem surgir.

Conforme pesquisas realizadas pela Embrapa Cerrados do Distrito Federal, a prática de agricultura de coivara provoca a baixa na oxigenação da água. Isso aumenta o pH e também a presença de compostos químicos.

Com menor oxigenação em poços, reservatórios e lagos, a taxa de sobrevivência de peixes e organismos que vivem nessas águas paradas reduz.

Ademais, se houver concentração superior a 50g de cinza para 1L de água, os peixes não conseguem sobreviver. Isso é um impacto enorme na vida aquática de diversos tipos de locais.

Portanto, é um dos grandes prejuízos que essa prática agrícola oferece.

Queimadas e as consequências para o meio ambiente

Além disso, outra grande questão é o descontrole das queimadas. Muitas vezes, a prática da coivara pode sair do controle do agricultor. E o resultado acaba sendo o desmatamento de áreas que não estavam dentro do previsto.

A coivara pode ocasionar incêndios e prejudicar a população local. Isto porque a emissão de fumaça é prejudicial à saúde humana e dos animais. Ademais, as queimadas liberam CO₂, o que contribui para os buracos da camada de ozônio.

Como consequência, as temperaturas aumentam, pois a camada de ozônio serve para reter os raios solares e manter a temperatura certa no planeta.

Com isso, os impactos negativos que a agricultura de coivara possui são grandes. De forma que os benefícios nem sempre compensam, o ideal seria encontrar um meio que beneficiasse os cultivos sem prejudicar o meio ambiente.

Comunidades que praticam a técnica da coivara

Como não se utiliza essa técnica da agricultura na agricultura moderna, que é aquela que utiliza a tecnologia como instrumento, estamos falando de uma técnica mais manual.

Com isso, os principais grupos que utilizam a agricultura de coivara são os grupos indígenas, quilombolas, ribeirinhas e caiçaras.

O nome dado a esse tipo de agricultura é de subsistência. Isto porque, nesse caso, a intenção desses povos não é o cultivo com visão de lucro. A plantação que fazem é para o proveito próprio, para que eles mesmos utilizem.

Não há comercialização em grande escala, como no cultivo moderno. Isso faz com que as desvantagens sejam menores. Afinal, quanto menor é a produção, menores são os danos.

Porém, isso não deixa de ser danoso ao meio ambiente. No entanto, se os grandes produtores utilizassem a técnica, os danos seriam muito maiores.

Por não ser em grandes proporções, essa prática acaba dividido opiniões. Para os grupos que utilizam, é uma prática importante e que mantém viva a agricultura. E isso sem utilização de agrotóxicos ou adubos, pois as cinzas fornecem à cultura tudo que é necessário.

Qual é a origem da coivara?

Essa prática feita pelos quilombolas já ocorre há mais de 300 anos na Mata Atlântica. Com isso, em 2018 esse sistema de coivara teve o reconhecimento como Patrimônio Cultural do Brasil através do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Nos povos indígenas e demais grupos, o uso do fogo para o preparo do solo também é uma prática antiga. Isso porque, muito antes de existirem produtos próprios para desenvolvimento do cultivo, como os agrotóxicos, já existia fogo.

E foi com utilização do que havia na época que essa tradição se originou. No entanto, nem sempre os praticantes fazem tal tipo de agricultura de forma rápida e fácil.

Isto porque é preciso autorização municipal para que os cortes nas regiões onde a agricultura de coivara ocorre. Tal autorização, às vezes, demora. Isso atrasa o processo de plantio. Com isso, pode ser uma ameaça à manutenção da cultura dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhas e caiçaras.

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A coivara na atualidade

Como foi possível observar, a utilização da técnica de agricultura coivara ocorre há séculos no Brasil. E, claro, veio muito antes da agricultura moderna. Além disso, é uma forma de cultura de diversos povos.

A coivara proporciona o sustento e a subsistência das pessoas que realizam a agricultura de coivara, já que é uma agricultura de subsistência.

No entanto, é importante salientar que é preciso ter um meio termo entre os direitos. Tanto o direito ao meio ambiente, ao qual todos possuem, quanto o direito à cultura. Com isso, é preciso conter os prejuízos que a prática causa ao meio ambiente.

Dessa forma, é importante encontrar uma forma de equilíbrio entre o cultivo secular da coivara e a saúde e o bem-estar ambiental e de todos.

ACESSO RÁPIDO
    Mayk Alves
    Fundador do Portal Vida no Campo e Agro20, Mayk é neto de Lavradores. Desde cedo esteve envolvido com as atividades do campo e, em 2014, uniu sua paixão pela comunicação com o tradicionalismo do campo. Tem como missão levar informações sobre o agronegócio de forma dinâmica, interativa e sem filtros.

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